Caríssimo Xexéo,
Compartilhamos um certo desprezo pelas
52 tatuagens de Fernanda Young. Leio a sua coluna na
revista do Globo antes mesmo de ver meu horóscopo de domingo. Mas tenho que discordar de você, querido Xexéo, quanto à fragilidade do novo filme de
Aronofsky.
Cisne Negro me deixou sem palavras. Meu namorado me chamava para ir embora e eu não conseguia levantar da cadeira do cinema. Engraçado que, pouco antes do fim, cheguei a concluir que o filme tinha me encantado, mas não tinha me feito chorar. Voltei para casa chorando. E fui ler a sua crítica, né? Tinha reservado esse momento para o
post filmem. E pensei ao terminar: que babaca (desculpa, pensei mesmo). Pode ser que a frágil seja eu, mas poucos filmes me emocionaram tanto. E poucas atrizes me surpreenderam tanto quanto Natalie Portman. Achei que aquela
peruquinha rosa em Closer seria o ápice da carreira dela. Tomara que o
tutu preto seja só o começo...
Com cautela e carinho,
Natália
COMtextoColuna de Artur Xexéo publicada na revista O Globo do dia 6/02/10
A morte do 'Cisne'Volta e meia, a crítica cinematográfica americana baba por um filme que nem merece tanto oba-oba. Acostumada à dieta de adaptações de histórias em quadrinhos cheias de efeitos especiais, comédias eróticas para adolescentes emburrecidos e filmes tolos e românticos para mocinhas ainda casadoiras, trata qualquer produção com ares um pouco mais intelectuais como obra-prima. É o caso de “Cisne negro” (“Black swan”), o filme de Darren Aronofsky que, no próximo dia 27, deve dar um Oscar de melhor atriz do ano à insossa Natalie Portman.
“Cisne negro” parte de uma premissa curiosa: reproduzir na tela de cinema a vida de sacrifícios por que passa uma bailarina clássica sempre em busca da perfeição. Dos pés maltratados para conseguir uma ponta impecável à bulimia que supostamente a auxilia no objetivo de conseguir a constituição física ideal para pesar como uma pluma nos braços de um partner, a bailarina clássica acaba transformando sua vida num filme de terror. No caso de “Cisne negro”, a interpretação desses dissabores é literal.
Nina Sayers, a protagonista do filme vivida por Natalie Portman, ganha o papel principal de “O lago dos cisnes”. Todos sabem que sua delicadeza é adequada à primeira parte da coreografia, quando ela interpreta o cisne branco. Seu desafio é demonstrar a sensualidade agressiva do cisne negro, seu papel na segunda parte. A obsessão com que se dedica à superação garantem o mote do filme.
A obra vem sendo comparada com os filmes americanos dos anos 70, década em que a cinematografia dos Estados Unidos viveu seu último período de explosão criativa. É exagero. “Cisne negro” é um filme pretensioso e frustrante, que atira em todas as direções, mas não acerta alvo algum.
Como filme de balé, é medíocre. Natalie Portman fez aulas diárias de dança durante dois anos para atuar nas cenas coreografadas. O resultado é decepcionante. Nas cenas em que dança de verdade, as tomadas são sempre em planos próximos para que a câmera não mostre que o movimento de suas pernas não condiz com um posto de primeira bailarina. Nos planos tomados à distância, foi utilizada uma dublê. Quem quer ver dança vai sair do cinema decepcionado.
Como filme de suspense, “Cisne negro” é confuso. Nina nunca sabe o que é realidade e o que é fantasia. Tudo bem. A personagem é assim. O problema é que o espectador também não sabe, e, após a primeira ou segunda surpresa, o truque perde a graça. Como filme de terror, é quase infantil. A repressão sexual da personagem e seus consequentes delírios lembram “Repulsa ao sexo” de Roman Polanski. Só que Polanski era sutil e Aronofsky é óbvio.
Os prêmios que Natalie Portman vem conquistando são surpreendentes. A música do balé é de Tchaikovsky, mas a interpretação da atriz é um samba de uma nota só. “Sou frágil”, ela parece dizer o tempo todo. O filme também.