Ela hidratava o rosto com lágrimas

Tinha muito medo de envelhecer e, apesar de não aparentar a idade que tinha, via no espelho rugas e olheiras que lhe feriam a alma. A farmácia chegou a ser seu parque de diversões. Lia os princípios ativos dos hidratantes faciais como se estivesse lendo Saramago. Nada que os dermatologistas lhe diziam soava verossímil. Não queria se deixar manipular por produtos manipulados. Até que aprendeu a chorar sem vontade em um curso de teatro. E descobriu que aquelas lágrimas deixavam sua pele macia e rosada. Pronto. Tinha um novo ritual diário. Foi quando percebeu que tinha mesmo era vontade de chorar.